your touch is colder, 2008
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teletransporte, 2013
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O teletransporte existe. Posso jurar.
Agora mesmo, nesse segundo, me desloquei, saí, viajei de onde estou para onde
(sem saber) queria ir.
Sinto
a mão direita sonolenta porque quero registrar o fluxo de pensamento antes que
me fuja mas prefiro me deixar absorver por essa viagem.
Foi quando li a frase : “intercessão de
zonas de vida” . Numa hora estava aqui. Noutra não mais. Ouço a distância as
pessoas que conversam no corredor, o som abafado não me permite reconhecer que
língua falam. Me agrada, pois colabora com minha viagem. Elas podem falar
chinês se quiserem, se eu quiser. Mas não é para a China que eu vou. Quer
dizer, agora fui. Vivo dentro das fotografias de Ai Weiwei[1]
que vi na exposição do MIS[2].
Era proposto que caminhássemos descalços pelo museu. Tirei meus sapatos sem
hesitar. Aqui, agora, calço sapatos mas posso fingir, posso fingir que estou
descalça. Posso fingir tudo.
Alguém me toca e desperto.
Retorno ao momento de agora mas fico
angustiada. Gostava de onde estava indo, quero continuar indo. Não dá mais.
Sinto minhas pernas mais pesadas plantadas no chão. No chão levitado do chão.
Afinal, estamos no quarto andar. Se bem que parece, pelo peso das minhas
pernas, que alcanço o chão do térreo, alcanço a terra. A terra. “Terra a
vista!”. Terra de quem? Presencio a história do pai do Cildo[3]
que abriu uma investigação sobre o assassinato de uma tribo quase inteira de
índios krahôs. Vejo aeromotores planando, vejo as roupas empesteadas de vírus
voando como fantasmas ao encontro das mãos dos índios que mais tarde
desapareceriam.
Caminho por uma estrada de terra onde o
Sol forte faz subir fumaça do chão. Onde também sobe fumaça do chão é em Nova
York. Eu gosto de Nova York. Fui
uma vez apenas. Andei muito, tirei fotos polaróides. Fotos polaróides tem a
incrível capacidade de transformar o presente em memória instantaneamente. Saco
minha câmera, aponto para a Brooklyn Bridge, movimento meu corpo um pouco
buscando pelo melhor enquadramento e aperto o botão. A foto sai de dentro da
câmera e aí eu olho mais para sua superfície cinza se transformando em colorida
do que para a ponte que está ali pesada, presente. Não olho mais para a ponte
real, olho apenas para a foto/memória instantânea da ponte. Meus olhos então
buscam por mais memórias. Nesse caminho vou ampliando meu “museu portátil”.
Será que tudo é mais poético quando vira lembrança? Será que minha obsessão com
a memória e suas relíquias me faz, no presente, olhar para o futuro com uma
espécie nostalgia precoce?
“Assim como o colecionador, o fotografo é
animado por uma paixão que, mesmo quando aparenta ser paixão pelo presente,
está ligada a um sentido do passado.” Capturei essa frase enquanto relia ‘Sobre
Fotografia’ de Susan Sontag.
Eu vi Susan Sontag morta. Há uma
fotografia ou duas, de Annie Leibovitz que estavam expostas na National Potrait
Gallery em Londres entre Outubro de 2008 e Fevereiro de 2009 pra quem quisesse
ver. E eu vi. Nessa mesma exposição tinha aquela fotografia clássica da Yoko
Ono sendo enroscada por John Lennon nu e outra que me lembro bem da Woopi
Goldberg numa banheira cheia de leite. Annie Leibovitz já foi uma das minhas
fotógrafas favoritas, hoje nem tanto. Porém, certamente existe algo dela nesse
álbum de colagens que é a minha alma. São muitas e muitas páginas de revista
Vanity Fair arrancadas e arquivadas caóticamente em pastas no meu quarto. Nunca
soube muito bem porque guardava essas imagens. Continuo guardando e continuo
sem saber. Às vezes encontro pistas em outras pessoas que sofrem do mesmo ‘mal de
arquivo’ que eu. Descobri recentemente que Tacita Dean[4]
coleciona objetos em que a palavra ‘esperança’ está escrita, e outros com a
palavra ‘silêncio’. Além de dezenas de outros objetos que uma hora são apenas
coisas em caixas até que despertam e passam a respirar no mundo conosco. Eu e
Tacita (decidi que somos íntimas) também nutrimos um grande amor pelo pintor Cy
Twombly de quem ela inclusive fez um video/retrato em 2011, pouco antes dele
morrer. Numa resenha sobre o vídeo, um jornalista encontra semelhanças entre os
trabalhos de Tacita e Cy; ambos se interessam profundamente pelo tempo, pelo
passado e pelas ruínas que permanecem no presente. Me emociono. Porque num
segundo, tudo, e eu repito, tudo parece fazer sentido. Até prendo a respiração
para que o cérebro não deixe fugir essa epifania.
De repente eu, minhas caixas,
minhas fotos, intermináveis dúvidas, vontades, sonhos, realidade, o medo do
medo e a coragem de admitir senti-lo, as notas a lápis nas ultimas paginas dos
cadernos, os livros, os livros, os livros, os filmes que escolho ver antes de
dormir, os lugares que já fui e os que sonho em conhecer, as revistas que eu
compro, as pessoas para quem eu sorrio.
Tudo faz sentido.
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sem maiores complicações, s.d
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